quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A ressaca de uma campanha baseada em ódio e preconceito

 

Durante essas eleições me portei, praticamente, como uma ave de rapina. Havia pouco de política em discussão. O que mais abundou mesmo foi a podridão. José Serra jogou no lixo sua biografia e, portando-se como um beato alucinado, passou a orquestrar uma campanha desesperada, baseada em ódio religioso e na pregação de toda sorte de preconceitos.

Não iria me dar o trabalho infrutífero de tentar extrair dessas eleições qualquer material para discussão política. Fiquei apenas sobrevoando a podridão, feito um urubu, e descendo para dar uma bicada certeira cada vez que achasse conveniente. Não encontrei outra forma válida de atuação e nem acho que poderia ter encontrado.

Serra e sua cúpula tentaram orquestrar tudo “de cima”, inserindo temas religiosos no programa da TV, tentando criminalizar o passado de luta contra a ditadura da adversária para insuflar diversas manifestações de ódio sem efetivamente “meter a mão na massa” (fecal).

A distribuição de panfletos difamatórios apócrifos nos piores setores da igreja católica e em igrejas evangélicas numa tentativa de “satanizar” a adversária, obviamente, jamais foi assumida por Serra ou por qualquer liderança da campanha.

A conclusão mais fácil seria de que, ao determinar a entrada de temas tendentes a exaltar os ânimos dessas pessoas, a campanha tucana apenas abriu as porteiras para que uma manada de loucos enfurecidos caísse em campo para fazer o trabalho sujo voluntariamente. No entanto, passada a campanha, me sinto compelido a fazer uma releitura e pontuar melhor o envolvimento das lideranças com essa estratégia.

A campanha tucana explorou o tema do aborto com a própria Mônica Serra chamando a adversária de “matadora de criancinhas”, o que provocou na militância a reação de encher seus profiles no Twitter e no Facebook com fotos de bebês.

Não imaginava a senhora Mônica o tamanho da pedrada que viria no seu “telhado de vidro” no que atine a esse tema em particular, quando uma ex aluna, revoltada com a estratégia hipócrita, resolveu revelar que aquela mulher, que agora se portava como um Torquemada “anti-abortista”, na verdade já havia praticado um aborto.

A estratégia da massiva panfletagem com textos apócrifos tentando atribuir à adversária a imagem de uma “terrorista assassina” deveria parecer iniciativa de um bando de malucos de extrema direita que resolveram agir por conta própria, mas descobriu-se que muitos desses panfletos foram impressos em gráficas pertencentes a tucanos.

Se as lideranças tucanas não estavam participando ativamente da estratégia sub-reptícia de tentar explorar temas religiosos e outras baixarias para insuflar ódio em campanha, o que faziam José Serra e Tasso Jereissati numa igreja em Canindé, no interior do Ceará, quando, ao serem repreendidos pelo padre em virtude de estarem tumultuando uma missa, ocasião em que Tasso teve o impulso de partir descontrolado para cima do padre, acusando-o de ser “petista”?

Enfim, essas eleições foram marcantes em vários aspectos, mas o que mais surpreendeu foi a capacidade, não só da Dilma quanto do próprio povo brasileiro em atravessá-la.

Primeiramente, pelo que se conhece a partir de estudos de opinião, um político que, no Brasil, seja alvo de ataques que tentem explorar sua posição quanto à religião para jogá-lo contra a fé do povo, está perdido. Os tucanos sabem muito bem disso, pois o próprio Fernando Henrique perdeu uma eleição para a prefeitura de São Paulo para Jânio Quadros por ter se atrapalhado diante de uma pergunta sobre sua fé (ou ausência dela). A eleição estava apertada e, no dia seguinte, a campanha adversária espalhou panfletos dizendo “Cristão vota Jânio”. Os tucanos creditaram a derrota à postura vacilante de FHC diante daquela pergunta no debate.

De lá para cá a coisa não mudou tanto. Pelo contrário, com o crescimento das igrejas evangélicas, onde pastorecos se dão o trabalho de, continuamente, “em nome de deus”, pregarem a discriminação de homossexuais e outras tantas formas de preconceito, a munição para uma campanha desse tipo se tornou até mais abundante. O próprio vice de Serra, o patético jovem “neocon” Índio da Costa, chegou a se reunir com evangélicos para prometer inserir no programa de governo retrocessos na legislação que protege homossexuais de ofensas preconceituosas. Coisas abjetas, vindas de um sujeito abjeto reunido com gente abjeta.

Dilma foi muito habilidosa e teve um jogo de cintura surpreendente ao lidar com as “saias justas” que exploravam suas supostas convicções religiosas. Quanto ao eleitor, evidentemente, boa parte se deixou levar por isso, mas também é surpreendente que isso não tenha virado o resultado da eleição. Os tucanos fizeram uma aposta, e uma aposta bem embasada, de que radicalizando a vulgaridade e a baixaria, eles iriam sujar as mãos, mas que depois as lavariam nas torneiras do Palácio do Planalto. Dessa vez, não deu.

Encerrada a campanha, com a vitória de Dilma, a lamúria pela derrota de Serra na internet se deu como era esperado, com uma enxurrada de ofensas preconceituosas contra pobres, nordestinos, negros, etc. De maneira alguma fui surpreendido pelo ocorrido. Esse texto tem, unicamente, o objetivo de demonstrar que as lideranças tucanas em campanha tinham, SIM, a mão na massa e agora saem dela com as mãos sujas, tendo emporcalhado a discussão política e insuflado ódios e preconceitos que serviram apenas para dividir o país.

A OAB de Pernambuco já garantiu que os responsáveis pelas manifestações de preconceito irão enfrentar as consequências legais. E quem estava orquestrando isso tudo, paga como? Espero que colha pelo menos um grande prejuízo político.

José Serra, você reacendeu em mim o interesse por política, que andava um tanto morto. Nunca poderei manifestar apoio a ninguém com tanto entusiasmo como manifesto oposição a você e a tudo o que você se dispôs a representar durante sua odiosa campanha.

Não sou hipócrita para declarar que “espero que você aprenda” e volte a ser político, deixando de ser o beato alucinado a semear ódio no qual você resolveu se transformar. Espero, francamente, pois não sei me afastar da franqueza, que você colha dessa campanha os maiores prejuízos políticos possíveis e que isso repercuta sempre em toda tentativa sua de se lançar candidato. Trataremos de preservar a memória desses deprimentes episódios encenados por você e pelos seus. 

PS: Usei novamente esse vídeo do Youtube porque ele é emblemático e mostra a abundância de manifestações de ódio que vieram após a derrota tucana. Não sou o autor do vídeo. Se fosse, não teria usado a imagem do Hitler. Não gosto de dar chances de me enquadrarem na Lei de Godwin em qualquer discussão política.

Em tempo, quem tiver estômago para dar uma olhadinha na coletânea do que foi produzido pela “limitância” tucana, é só ir aqui. Tome um antiemético, se for o caso.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Serra plantou ódio, e o Brasil colhe preconceito: as manifestações contra nordestinos na internet

 

Vale a pena, tomando cuidado com possíveis nauseas, ver o vídeo acima e ler o texto do Rogrido Viana, que vai justamente ao encontro do que pensei ao entrar em contato com as manifestações de ódio preconceituoso que sucederam a derrota tucana nas eleições.

sábado, 30 de outubro de 2010

O líder falido

 

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Sentei hoje com alguns colegas da época do curso de Direito e, como há muito não acontecia, me pus a discutir política num desses papos regados a cerveja, mas cuidei para que, dessa vez, passado o tempo das paixões, das convicções, eu fosse um sujeito mais a ouvir do que a opinar.

Queria tirar dali alguma análise, mais do que convencer, mais do que argumentar. Acho que essa é, definitivamente, a minha “zona de conforto” em termos de atuação política. Meu papel é analisar. Que se dane o argumentar, que se dane o convencer. Não dou a mínima para transformar a realidade. Interessa-me apenas olhá-la cara a cara, por mais horrorosa que ela seja. Rendo-me ao mais puro cinismo.

Chegada a véspera da decisão do segundo turno, eu precisava estar atento aos discursos. Queria saber o que passa, a essa altura, pela cabeça de ambos os lados.

Não existe mais o petista entusiasmado, ou quase não existe. Talvez haja um ou outro, entre essas pessoas nas quais o interesse por política é mais recente ou, obviamente, entre os carreiristas, doidos pra pegar uma cueca com uma boa grana.

Entre os meus amigos, gente que estudou comigo, gente da qual me acompanhei durante minha formação, com quem compartilho certos aspectos do meu pensamento político, há o “petista de ocasião”. Aquele que é “devolvido ao petismo” por força das circunstâncias, como ocorre agora nesse segundo turno.

Ninguém quer endossar cegamente o petismo “zédircelista”, mas, por questão de formação, por questão de valores, nos sentimos compelidos a manifestar, de todas as maneiras possíveis, nossa grande repulsa ao que representa o PSDB, José Serra como figura, e os discursos por ele inspirados.

Todas as máscaras tucanas caíram. O sociólogo da Sorbonne era bom em sustentá-las, mas Serra é um fracasso fragoroso nessa tarefa. Serra não sabe mentir, mas isso não é nele uma virtude. Não saber mentir é virtude para aqueles que não tentam viver de mentira. Para um sujeito como o Serra, não saber mentir é tão fatal quanto não saber respirar, por isso ele é, visivelmente, um morto-vivo.

Ao não saber mentir, Serra deixa transparecer, perfeitamente, o que ele representa em sua ação política. É o fantasma da Casa Grande voltando para assombrar a massa escrava quase século e meio depois da suposta abolição. Mas não é o tipo de assombração que chega pra aterrorizar. Chega tentando, debilmente, seduzir. Inclusive prometendo décimo terceiro de bolsa família, que é um prato extra daquela feijoada pútrida que se comia na senzala, daquele mocotó de porco em decomposição avançada.

Outro efeito marcante dessa inabilidade do tucano é a postura de sua militância (ou limitância), tipo de gentinha que discute política sem o mínimo de pudor sobre seus mais medonhos preconceitos. “Quem vai decidir essa eleição é o voto dessa gentalha, gente como a doméstica lá de casa”, diz o playboyzinho afrescalhado.

Ao sair de cena o “Príncipe dos Sociólogos”, cedendo lugar a um sujeito pequeno, mesquinho e vulgar como José Serra, não caiu apenas a máscara do PSDB. Caíram as máscaras dos seus entusiastas. E isso é, simplesmente, o maior trunfo na mão do PT.

Num país como o Brasil, você não pode fazer política com o discurso que só sensibiliza dondoca de salão de beleza e playboy afrescalhado. A plateia é muito mais abrangente, embora o “umbilicocentrismo” dessa gente tapada não lhes permita enxergar.

Mas a inabilidade de gente desse tipo não é coisa a ser lamentada. É coisa a ser festejada! Esse país viveu um baile de máscaras que nunca pareceu ter fim, mas essa gente que circula em redor do Serra simplesmente não faz mais questão de máscaras. É um povo de um elitismo tão imbecil que praticamente sobe em palanque pra chorar saudades do sufrágio censitário.

Imbecilidade de inimigo não se lamenta, se festeja! Um brinde ao Serra e à payboyzada fresca que gira em torno de sua campanha! E um bom domingo para o Brasil! Vamos tacar mais gasolina no incêndio da Casa Grande e ver o senhorzinho gritar feito fresco suas asneiras elitistas!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Herbie Hancock - Don't give up (feat. Pink and John Legend)


Do album "The Imagine Project" do Herbie Hancock. Talvez o melhor disco de 2010 em qualquer categoria, eleito por mim mesmo! :)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Quando uma bolinha de papel dá ensejo a um papelão

 

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Nesse episódio todo da tal bolinha de papel, é quase impossível que algo seja mais patético do que o Serra ou, pior, o cara que ligou pro Serra e deu a ideia de transformar uma bolinha de papel no factoide sobre "violência Petista".

Acompanhei a coisa desde a formação. Pela TV, mas acompanhei. Tava vendo a palhaçada. Serra em passeada, cercado de malucos truculentos e de fanáticos religiosos, como sempre, cruza com um punhado de militantes do PT, começa aquela confrontação típica de quando uma campanha desce ao nível que essa desceu... a tucanada junta com os fundamentalistas de todas as estirpes começa aquele papo de "terrorista", "assassina" e coisa parecida que tem sido o repertório de "arjumentação" deles nessa campanha.

Obviamente, quando se cria um clima desse tipo, alguns acabam indo pra porrada mesmo. Evitar a violência começa evitando as ofensas verbais. Como a "cruzada" do Serra era mais numerosa, inclusive, entre o pessoal que brigou, o punhado de militantes do PT foi que levou a pior.

No meio da confusão, alguém teve a infeliz ideia de dar uma de malandrão e mandar uma bolinha de papel na cabeça do Serra. Quem tem o cérebro minimamente capaz de raciocinar em termos de mecânica e viu aquela imagem sabe que a massa daquela bolinha, em comparação com a da cabeça do Serra, era irrisória, desprezível, tendendo a zero, por mais oca que seja a cabeça.

Ou seja, era apenas uma bolinha de papel comum, que bateu na careca do candidato e quicou sem provocar qualquer leve deslocamento da cabeça durante o “impacto” e, ainda, sem fazer com que ele manifestasse, no momento, qualquer expressão facial de dor. A tal bolinha veio, quicou, e nada!

Jogar uma bolinha de papel não é uma agressão física, é um desrespeito moral, é uma forma infantil de demonstrar repúdio, muito praticada pela molecada em idade colegial. 

Depois do “atentado”, Serra continua caminhando e recebe um telefonema. Esse provavelmente realizado pelo mentor da estratégia. Deve ter falado pra ele dar uma de Rivaldo e “cavar uma falta” pra criar um gigantesco factoide sobre a “violência petista”. Serra desliga o telefone e leva a mão a cabeça… opa… mas a mão não tá onde a bolinha pegou. Ele ficou passando a mão no outro lado da careca! Começa a passar mal e vai a uma emergência.

No hospital, deve ter feito uma tomografia para apenas constatar que ele “não tem nada na cabeça”, mas isso todos nós já sabíamos.

Além do papel ridículo representado pelo candidato, uma coisa também fedeu bastante no episódio. Quem acompanhou por vários veículos viu a diferença nas coberturas.

As outras emissoras mostraram o confrontamento de forma mais abrangente, mostrando como a coisa se desenvolveu, enquanto, no JN da Globo, o vexaminoso “Casal 45”, com cara de consternação, mostra um vídeo completamente editado para destacar “a violência dos petistas”. Mais adiante, só faltaram chorar abraçados com muita pena do Serra, tamanha aquela agressão… “alguém jogou um piano de calda na careca dele, meu Deus!”. 

Não podia faltar o Índio no vexame. “Índio quer cachimbo, Índio quer fazer fumaça”, como diria o Gabriel Pensador. Índio afirmou que estava ao lado do Serra quando ele foi atingido por uma coisa que devia ter uns dois quilos e parecia um meteoro! Alguém dá um chazinho de camomila pra esse Índio, caramba. Sujeito descontrolado. 

Episódios de violência são inevitáveis quando uma discussão política desce ao nível que essa desceu, quando o tucano fez todos os esforços para inflamar ódio baseado em religião e para tentar imprimir, na cabeça das pessoas, um repúdio ao adversário que tira dele praticamente a condição de humano.

O que a “cruzada tucana” tem promovido é isso. Tem gente se matando a bala por aí devido à irresponsabilidade de quem puxou a discussão política pra esse patamar de vulgarização. Mas isso não ganha destaque. O fato relevante é uma bolinha de papel numa careca. 

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Índio descontrolado


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Como já era de se esperar, o nível da discussão nessas eleições despencou mais ainda no segundo turno. A baixaria aqui funciona que nem letra de funk carioca, quando você pensa que chegou no fundo do poço, aparece o Índio da Costa de mãos dadas com o Silas Malafaia pra comprar briga com os homossexuais. Aí dá pra perceber que um poço desse nunca vai ter fundo.

Desde o início, quando nem dentro do PSDB arrumaram alguém disposto a se queimar saindo vice do Serra nessa campanha, desconfiei da aparição repentina desse tal Índio da Costa. Fiquei curioso com a figura de um cara que aparece do nada e monta numa vaca dessa que vai pro brejo num galope alucinado. Vaca galopa? Sei lá. Põe na conta da liberdade poética.

Quanto a essa argumentação de que uma lei que torna crime ofender os gays em razão de sua orientação sexual fere a liberdade de expressão dos homofóbicos aguerridos, isso é coisa que só circula em ambientes de absoluta indulgência intelectual, como igrejas evangélicas e essas “seitas” de extrema direita de onde parece ter saído o tal Índio da Costa. Claro que eles iam tocar numa tecla dessas por ocasião de um encontro entre Silas Malafaia e o descontrolado vice do Serra.

Sério, mesmo. Eu fico até curioso sobre a “biografia” desse cara. Como pode ser lançado assim numa campanha à presidência de um país um sujeito com um discurso alucinado de adolescente neocon de comunidade de orkut? Até agora, além de ficar acenando pra a platéia feito um bobalhão, as únicas participações do sujeito na campanha fizeram os tucanos se arrependerem de terem-no colocado em cena.

O prejuízo político do episódio tende a ser considerável, porque entre os homossexuais o contingente é numeroso, ao que se somam parentes, amigos e etc. O que não passa pela cabeça  dessa gente é que os gays têm uma área de influência que vai além do “gueto”. E mais, também não conseguem perceber que o Brasil, em pleno 2010, não odeia homossexuais como eles gostam de acreditar que odeie. O baixo nível, a vulgarização do discurso vai ter seu preço.

Agora que o Serra já posou de militante do Greanpeace pra tentar ganhar espaço entre os verdes, talvez seja a hora dele pegar o batom e o salto alto da Mônica emprestados e sair por aí tentando remediar o prejuízo.

Artur Menezes - The Way You Make Me Feel - Blues Style

Talentos do blues fortalezense. Excelente versão, Arthur. Parabéns!


Artur Menezes playing "The Way You Make Me Feel", by Michael Jackson, in blues style, at Orbita Bar, Fortaleza, Ceara, Brazil.

Artur Menezes - Guitar and Vocal;
Lucas Ribeiro - Bass
PH Barcellos - Drums

Video: Saron Brandão.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Movendo os conteúdos de tecnologia

 

Caros pouquíssimos, porém prezados, leitores,

A proposta, ou ausência de proposta, desse blog, me permite escrever aqui sobre uma boa variedade de assuntos, mas percebi que os assuntos tecnológicos estavam ficando bastante destoantes.

Como escrevo usando um editor que me permite, ao momento da postagem, selecionar um blog para onde enviar aquele texto, resolvi aproveitar essa facilidade e organizar melhor as coisas. Dessa maneira, o blog que tratará dos assuntos mais nerds será o www.droider.com.br.  Aqui continua essa coisa de “variedades em geral”, mas nem todo mundo que vem ler algo sobre política, música e etc. está interessado em saber como hackear um smartphone, então vamos atenuar a bagunça.

Salve o Droider nos favoritos do seu smartphone, adicione no Google Reader, assine no Wordpress e fique ligado, pois acredito que, pra quem gosta de tecnologia, será um espaço interessante. Passe o seu leitor de códigos na imagem abaixo e boa leitura.

 

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Linha do trem

 

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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sobre a demissão de Maria Rita Kehl

 

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Escrevi inicialmente como um comentário no Facebook à notícia da demissão da Maria Rita Kehl pelo Estado de São Paulo, mas achei interessante trazer para deixar registrado aqui.

Isso porque, não apenas o texto que resultou na demissão da autora, como também o próprio ato da demissão, vem ao encontro de uma linha de análise que já vinha sendo tratada por aqui: o fato de que todo o discurso da tal “limitância” tucana online ser, essencialmente, baseado em preconceito, no que se pode chamar “pobrefobia” de certos setores da sociedade.

A campanha tucana é embasada e fortalecida essencialmente por preconceitos elitistas e por pura mesquinharia. O governo Lula tinha muito a ser criticado, mas o eleitorado tucano preferiu apontar a mira contra o "voto do pobre", os "vagabundos do bolsa família" e etc.

Mesmo não sendo entusiasta do PT que aí está e também não simpatizando com nenhuma das alternativas de esquerda presentes no nosso cenário, estou, agora, nesse segundo turno, com a Dilma. Isso por considerar a volta do PSDB um tremendo retrocesso e, fundamentalmente, porque NUNCA ninguém me verá fazendo coro com esse discurso escroto que tem sido o tom da "limitância" tucana por aí.

Posso mudar de opinião, como já mudei um bocado, posso rever minhas leituras de mundo, mas o essencial não muda, né? Baseado nesse essencial, eu não me junto pra fazer política com gente que tem ódio de pobre, sob nenhuma circunstância.

Sem entusiasmo algum, escolherei "o mal menor", votarei com base nisso e, principalmente, pela tremenda aversão ao discurso do "lado de lá".

Acredito que essa seja a única linha possível de ser seguida. Até mesmo os partidos de esquerda que se afastaram desse “novo PT” há algum tempo têm, nesse momento, como única escolha, fortalecer a campanha da Dilma, mesmo que seja exclusivamente para expressar o necessário repúdio ao “lado de lá”.  

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

De que adianta pintar-se de verde?

 

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Há um aspecto dessas atuais eleições, que salta aos olhos e que é um dos fatores que tomo para considerá-la uma das cenas políticas mais imbecis que pude analisar. Parece que os pensadores da política brasileira andam subestimando o avanço do fundamentalismo religioso e errando suas apostas devido a esse equívoco.

Passado o primeiro turno, o tucano tá se pintando de verde que mais parece um papagaio com uma deformidade no bico. O PT também tá pra largar de vez o vermelho e se esverdear todo. Pensam eles que a agenda ecológica era o fator principal a impulsionar a campanha de Marina Silva.

Sim, havia, no meio universitário, entre o público jovem, um grupo de pessoas que considerou uma  boa opção, num pleito tão complicado, abraçar a causa ecológica através da opção pela candidata do PV. Por outro lado, sabemos que turminha de universitários nunca impulsionou campanha de maneira muito significativa. Pode servir para alguns pleitos ao legislativo, mas não dá quorum suficiente pra impulsionar uma campanha à chefia do executivo com abrangência nacional.

O maior peso da campanha da Marina, apesar de todo o verde, era o da tal “bancada evangélica”, juntamente com suas “bases”, que agora faziam uníssono com as vozes preconceituosas da classe média católica, puxando essa barulheira ao estilo TFP que vimos ser ensaiada no primeiro turno e que agora explode no segundo.

Marina é uma mulher de considerável trajetória na política nacional e tem formação de esquerda. De certa forma, a candidata sabia não ser interessante para si o atrelamento explícito da sua campanha aos discursos de ódio religioso. Mesmo sendo crente, ela tinha bagagem política suficiente, além do envolvimento histórico com causas progressistas, para não querer que certos “argumentos” preconceituosos fossem usados por sua militância.

De certa forma, apesar de fortemente impulsionada  pelo neopentecostalismo, a campanha de Marina Silva funcionou, no primeiro turno, no sentido de conter o uso desses argumentos grosseiros e preconceituosos esperados quando a religião, como fenômeno de massas, passa a inspirar a política.

Agora  é segundo turno e sem Marina. Claro que a simpatia da direita religiosa recai sobre José Serra. Do outro lado está uma mulher de vermelho, com curriculo de envolvimento em movimentos rebeldes, um atrativo irresistível para os ataques de machismo e misoginia já esperados quando andam de mãos dadas a religião de massas, institucionalizada, e a estupidez, essas duas parceiras tão apegadas.

Explode o preconceito movido a fé, mas o Brasil mudou da década de 60 para cá. A força motora da nova “TFP” é a multiplicidade de igrejas evangélicas, onde os pastores acertam o que suas olhevas espalhadas por aí irão repetir irreflexivamente.

A elite católica brasileira entrou numa decadência tão franca que agora, até para sair nessa marcha retrógrada, com paixões políticas da medievalidade, vai de carona no barulho dos evangélicos. Na verdade ganha força a união dos preconceitos da nossa elite, movida mesmo pelo elitismo, pela aversão a pobre, com os preconceitos dos evengélicos em geral, fundamentados no que o pastor diz ser o “exemplo de Cristo”.

E essa tem sido a marca do segundo turno. A estratégia é vincular a candidatura do PT a determinadas mentiras que possam despertar ódio religioso e assim acender as velhas chamas. Inclusive a chama da misoginia, afinal, lugar de mulher, no mundo ideal dessas pessoas, não é em cargo de comando, absolutamente.

Talvez quando os nossos pensadores políticos fizerem o retrospecto dessas eleições percebam que, apesar de ter sido o pleito mais debatido da história, foi debatido nas bases mais imbecis possíveis. Talvez seja a hora, também, de parar de subestimar o fundamentalismo religioso “made in Brazil”, que isso não é coisa só do Oriente Médio. Existe aqui, é cheio de ódio machista, misógino, homofóbico, e talvez não tarde a se tornar violento.

sábado, 2 de outubro de 2010

Uma oposição que só fala para si mesma

 

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Interessante como as últimas postagens do blog renderam bons papos com amigos que vieram aqui, leram textos e discutiram alguns pontos.  Um deles desses pontos, “mote” desse novo texto, repetiu-se em duas dessas conversas e trata de uma idéia que eu já vinha amadurecendo para uma nova postagem. Resolvi antecipar, extraordinariamente, porque a votação é amanhã e, se deixar passar, a postagem fica obsoleta antes de vir para cá. 

Analisamos um aspecto peculiar nessa última campanha tucana, o que já havia sido tangenciado nesse texto recente. Trata-se da completa incapacidade do discurso produzido pela oposição no sentido de comunicar qualquer coisa ao povo.

Parece que o PSDB, inspirado pelas últimas modas em termos de marketing eleitoral, resolveu vir para a internet, ocupar espaços na rede, usá-la como veículo fundamental. A estratégia mostrou-se ridiculamente fraca em todos os momentos da campanha eleitoral.

Desde as participações do @joseserra_ no Twitter, com suas postagens destacadamente insossas, como não poderiam deixar de ser, relatando ter acabado de jogar ping-pong ou estar voltando de um almoço de família, até a contratação de um guru índiano de mídia online que nunca mostrou a que veio.

No Twitter, era o Serra tentando mostrar seu cotidiano, seu “lado humano”, seus laços com a família, como se isso fosse o fundamental para a construção da sua imagem de candidato. Ou seja, construindo uma impressão de “semelhança” com seu eleitor, com seus pares de classe média, numa comunicação que não fazia sentido pra público nenhum, que não tinha muito significado para ninguém. Você não acha interessante ver um amigo seu no Twitter falando que foi jogar ping-pong, você acha interessante quando ele fala algo interessante.

Ou seja, o Serra, em si, não é capaz de se comunicar de modo convincente, nem mesmo com os seus, nem mesmo com as pessoas pertencentes a sua mesma classe social e, muitas vezes, nem com seus próprios aliados. É tanto que o discurso dele é o discurso do EU. “Eu isso, eu aquilo, eu fiz isso, eu vou fazer aquilo. Eu escrevi o projeto que criou a lei da gravidade, que só passou a ser cumprida quando aquela maçã caiu na cabeça de Isaac Newton.”  É um sujeito que só fala de si e acaba só falando para si. O “nós” quase não aparece na fala do candidato. Todos sabemos: “eu” não faz política, “nós” é que faz. E não importa nem a concordância verbal.

Além dessa comunicação auto-referente do candidato, há o problema, e esse talvez mais grave, da sua, digamos… “militância”. A militância pró-Serra se comunica sempre usando como premissas de argumentação os seus próprios preconceitos, seus preconceitos de classe, como bem destacou meu amigo Jetther num comentário recente aqui no blog. São repassados reiteradamente e-mails que “berram” pela rede inteira que “SÃO OS DESVALIDOS QUE ESTÃO ESCOLHENDO O PRESIDENTE!!!!! UNS MORTOS DE FOME QUE NEM SABEM SOMAR COM OS DEDOS É QUE VÃO DECIDIR O DESTINO DA NAÇÃO!!!!!”.

Sim, eles escrevem esse tipo de coisa, tudo irritantemente em caixa alta, com abundância irritante de pontos de exclamação e comentento até um monte de erros de português enquanto acusam os eleitores do PT de serem analfabetos. Mas, vejamos, dotar até mesmo os desfavorecidos de capacidade decisória, da possibilidade de inrterferir nos rumos da nação, não é um dos principais escopos da democracia? Então aquele argumento serve para quê? Ele comunica o que para quem, a rigor, em termos de política?

É claro que esses e-mails circulam e provocam até mesmo entusiasmo. Alguns se põem a repassar empolgados. O que eles não sabem é que só estão falando entre si, que pessoas que não compartilham daqueles preconceitos nunca serão atingidas pela tal “mensagem” e que aquele desespero evidenciado pela caixa alta e pelas sequencias de pontos de exclamação também não é compartilhado por muitas outras pessoas além daquele “tiozão reaça de churrasco” que tá na sua lista e mais um punhado de bolsonaros espalhados por aí.

Talvez tenha sido esse fator que levou a campanha do Partido Verde, mais recentemente, a ganhar espaço sobre os tucanos. A campanha da Marina parte do reconhecimento de que o governo tem problemas, tenta fazer uma crítica mais lúcida, sem desespero, e  não usa preconceitos de classe como premissas. Seus militantes, em geral, são pessoas também capazes de se articular nesse sentido e a presença deles online é mais eficaz do que a truculência da militância tucana.

A vitória do PT nas próximas eleições não é o fim do mundo, como andam alardeando nas correntes de e-mail, não é o fim do Brasil, mas eu torço para que seja o fim do PSDB como principal oposição ao governo. Porque uma democracia, para funcionar, precisa de uma oposição viva, inteligente, e capaz de se comunicar com todos os setores da sociedade.

O que o Brasil precisa, não obstante quem esteja no poder, é de uma oposição renovada, mais inteligente e menos preconceituosa, gente que o PSDB não é capaz de reunir em torno de seus candidatos porque é um partido que, historicamente, esteve atrelado ao elitismo mais mesquinho, aos piores caracteres do atraso do nosso pensamento político e é isso que o partido atrai para si. É isso que acaba angariando esse peculiar voluntarismo truculento que espalhou e-mails preconceituosos enquanto pensava estar fazendo política durante toda a atual  campanha.

Enfim, eu não gosto de profetizar e, como já disse, não nutro grande entusiasmo por nada nas atuais eleições, mas se houver um segundo turno sem o Serra, se uma eventual ida da  Marina para o segundo turno for a pá de cal que faltava pra terminar o sepultamento do PSDB e, com isso, o país puder ter a  oposição renovada da qual precisa com tanta urgência, acho que gosto da idéia…

O emblemático vídeo das “massas cheirosas” já anunciava qual seria a marca da campanha tucana, na internet e fora dela.

Continuem lendo e comentando. O espaço aqui é nosso. Em breve irei migrar o blog para o Worldpress e hospedar num servidor próprio, além de adquirir um potencial novo colaborador, que além de ser um cara com uma tremenda capacidade crítica, é bastante experiente em mídia online. Meu velho amigo Jetther Binelli, da KNS

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Weather Report - Birdland

Esse é um fusion para se escutar sem ficar embasbacado com virtuosismos nem nada. A música é bonita e pronto.

O mais corrupto de todos os tempos da última semana

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Um dos argumentos mais frequentemente usados pelos anti-petistas aguerridos é o de que “nunca na história desse país” houve tanta corrupção. Evidentemente uma hipérbole tresloucada, coisa de gente sem capacidade de leitura da realidade e incapaz de apreciação cuidadosa da história.
 
O que abre espaço para o uso de tal argumento é o fato de que caiu, despencou, estilhaçou-se, a imagem do PT como última reserva de moralidade na política nacional. Disso não há dúvida.  O partido está aí de mãos dadas com Collor, com Sarney, coisas que “nunca na história” do PT, poderiam ser imaginadas.
 
O pragmatismo zédircelista fez com que o PT  se agarrasse sem ressalvas a qualquer estratégia de fortalecimento no poder, o que vem dando muito certo, de  forma que não interessa, e nunca mais irá interessar ao partido, bater de frente com caciques regionais, por mais espúrias que sejam as suas trajetórias políticas, por mais abjeta que seja a idéia de eventual aliança com eles.
 
Bom, até aqui eu, aparentemente, dei munição à barulheira oligofrênica das Reginas Duartes espalhadas por aí, agora vamos ao contra-ponto.
 
Para chegar efetivamente ao poder e lá se estabelecer, o PT optou por dar continuidade a práticas já estabelecidas, como uso de “caixa dois” de campanha e, supostamente, estratégias escusas para angariar apoio no congresso. Isso foi o que surgiu de mais destacável e foi a oportunidade à qual a oposição e certos setores da mídia se agarraram com mais afinco no sentido de desestabilizar o governo.
 
O problema é que o denuncismo irresponsável saiu pela culatra, porque a desmedida tempestade de factoides impediu que, mesmo os mais atentos, pudessem distinguir entre o que de fato estava acontecendo e o que estava sendo levianamente inventado. Nesse sentido, o PT foi ajudado involuntariamente pela posição insana da revista Veja e de outros veículos.
 
Agora, tratando do lenga-lenga segundo o qual o governo do PT atingiu o mais alto patamar de corrupção já havido nesse país, esse é um ponto mais intrigante.
 
Um dos maiores erros do governo atual foi não ter realizado, logo de partida, uma rigorosa averiguação de todos os processos de privatização havidos na gestão anterior.  Porque a verdade é que o Brasil não acompanhou o processo de privatização adequadamente.
 
Durante o governo FHC, enquanto o Estado era desmontado, a oposição comeu um “boi de piranha ideológico”. Enquanto todos  se ocupavam em debater o papel do Estado, a manutenção ou não de uma máquina Estatal mais robusta, implicações políticas e econômicas do modelo neoliberal, não se tratou de manter a atenção sobre como esse processo estava sendo tocado.
 
Estávamos todos ocupados em debater tudo numa abordagem acadêmica, o neoliberalismo estava vindo desmontar a máquina administrativa, seria o contra-fluxo de conquistas sociais, o fim do “welfare state”, o horror, o horror! Todos muito eruditos, muito ocupados em lapidar suas análises. Talvez por uma moda de empavonamento intelectual lançada pelo próprio FHC e assimilada inconscientemente até por seus mais enfurecidos opositores. O fato é que não havia muita gente atenta aos pontos mais simples, às próprias operações de compra e venda e à maneira como estavam sendo tocadas.
 
Depois de arrefecido o debate, quando todos lamentavam apenas o fato de as privatizações terem acontecido não obstante suas convicções contrárias, alguns poucos passaram a constatar que, enquanto faziam forte oposição às vendas de estatais, o que estava acontecendo na verdade era uma sequencia de doações graciosas camufladas de vendas.
 
É difícil mensurar corrupção para dizer o que é pior, mas acredito que um referencial adequado seja a lesividade ao patrimônio público. Nisso, é difícil concorrer com o que se deu durante a gestão tucana. Isso porque o percurso trilhado até a privatização geralmente seguia um roteiro padronizado:
  1. a estatal a ser privatizada passava um bom período à míngua, sucateada, para que lhe faltassem recursos e com isso se fortalecesse o argumento de que nada valia, que era apenas um peso a ser carregado pela administração. Em muitos casos as empresas não podiam, sequer, recorrer a créditos no BNDES para solução de seus problemas, o que estava vedado em Lei;
  2. depois de um longo período à míngua, a empresa recebia uma grande e violenta injeção de capital, para que ela passasse a ser  interessante ao adquirente num intervalo de tempo que não chamasse muita atenção da opinião pública;
  3. a cotação do valor da empresa pública a ser “vendida” era feita seguindo uma lógica de subvalorização alucinada, absurda, principalmente tendo em vista a anterior injeção de recursos feita para “revitalizá-la”, dispendiosa para o Estado;
  4. enfim, o adquirente arrebatava a empresa por um “precinho camarada”, tomando da própria administração pública um empréstimo para pagar, contraindo assim uma dívida que seria parcelada da maneira mais benevolente possível, paga com os próprios lucros da empresa, em parcelas diluídas a perder de vista com juros vistos apenas em negócio de pai pra filho;
Ou seja, qualquer um poderia ter se tornado dono de uma estatal. Eu, você, a Vânia, que é sua mulher, o Damião, a Andréia, a dona Maria. Não era preciso, de fato, ter dinheiro para adquirir a empresa. Era preciso ser camarada das pessoas certas, ser chegado da tucanada.
 
Não dá pra imaginar algo mais lesivo ao patrimônio público do que um processo como esse. Mesmo tentando, qualquer gestor que viesse depois teria imensa dificuldade em causar tamanho dano à administração.
 
O grande problema do PT, como já dito, foi dar continuidade a velhas práticas, corruptas, já entranhadas no funcionamento da política brasileira, quando chegou ao poder levando a responsabilidade de quem se apresentava como última reserva de moralidade no cenário. Foi isso que causou esse contraste, esse choque, que nutre o argumento estapafúrdio de que o atual governo é o mais corrupto da história.
 
Outro enorme problema do PT é a falta de elegância generalizada. Uma coisa é você ganhar uma Estatal, recebê-la de presente do “príncipe dos sociólogos”, numa transação que recebe todo um trato formal para que aparente ser juridicamente legítima. Outra coisa é um palhaço ser apanhado no aeroporto com a cueca cheia de dólares.
 
O único propósito desse texto é pontuar um tema tratado por aí de forma tresloucada. Não acredito que seja válido, em termos práticos, diferenciar mais honesto de menos honesto. Aprendi com a vida,  principalmente com meus pais, que ninguém é “meio honesto”. Não existe gradação em matéria de ética. Nesse sentido, me recuso terminantemente a ser apoiador de um partido que anda de mãos dadas com Fernando Collor ou com José Sarney. Faltas cometidas por membros do próprio time podem ser enfrentadas. É impossível formar uma grande equipe e poder “colocar a mão no fogo” por todos ali, mas os novos aliados, esses você escolhe, e essas escolhas dizem muito sobre você.
 
Em tempo: Quem tiver interesse em uma leitura séria sobre o tema das privatizações tocadas ao estilo tucano, recomendo a leitura do livro O Brasil Privatizado, do Aloysio Biondi, que pode  ser todo obtido gratuitamente nesse link.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A marcha da família caretona online



Acho engraçada a grande massa tucanófila online repassando isso aqui como se fosse A BOMBA que vai fazer o Serra virar o jogo. O que não entra na cabeça desse povo é que nem todo mundo lê "guerrilheiro" como algo necessariamente negativo. Pasmem, vocês, boa parte dessas matérias não tem NADA de contrário à candidata Dilma. Isso é algo que surge apenas na leitura pobre de quem tem uma visão de mundo tacanha.

Essa matéria em questão, por exemplo, é inteiramente elogiosa e até entusiasmada com a chegada ao poder de uma mulher que combateu frontalmente uma ditadura militar, tendo sido torturada. Vocês não sabem ler, ou ficam repassando as coisas sem ler?

Uma guerrilha que se ergue contra uma ditadura militar é um movimento, via de regra, legítimo e até bem visto pela opinião pública internacional, por mais que essa inevitável constatação seja tão amarga para alguns, principalmente para parte da elite brasileira que tem uma visão distorcida do passado e põe o seu elitismo acima, até mesmo, do repúdio devido a uma ditadura que manchou por anos a história do país.

 É uma questão de visão de mundo. Eu não sou entusiasta de nada nessas atuais eleições. Estou nela totalmente como "observador isento". Cogito realmente anular tudo dia 3, mas uma coisa que me tem chamado atenção é o espernear incansável da tucanada e a falta de capacidade de se comunicar politicamente.

Sei lá quanto tempo faz que estão batendo nessa tecla "olha, a guerrilheira! assaltou banco, movimento armado, bla bla bla" e o povo não tá dando a menor bola pra isso. Estão tentando trazer a tona o "medo dos conspiradores comunistas" como faziam nos anos 60, estão até tentando mexer com dogmas religiosos, querendo por em pauta um possível apoio à legalização do aborto por parte da Dilma ou da Marina. Talvez patê de embriões seja a nova iguaria dos comunas comedores de criancinhas!

A verdade é que ninguém tá dando a mínima para isso. Na verdade a campanha tucana, agora, em pleno 2010, tá parecendo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A diferença é que, naquele tempo, os milicos mobilizavam vovós carolas, coitadas. Usavam a religiosidade das velhinhas para fazer esse joguinho cretino. Agora, em 2010, jovens “estudados” tentam fazer política usando o mesmo discurso. É a tragédia se repetindo como farsa, da forma mais clara.

É por essas e outras que a política em geral se torna algo tão desinteressante. De um lado a safadeza generalizada do carreirismo, do fisiologismo, por parte dos políticos profissionais. Do outro a total incapacidade de articulação de qualquer setor da sociedade. Uns hipnotizados pelo paternalismo da “nova esquerda”, outros pela própria caretice e conservadorismo requentado da velha direita.

E eu fico na janela vendo a banda passar tocando essa porcaria mais intragável do que um “rebolation” ou algo que o valha. Vez por outra a irritação transborda. Minha vontade é de realmente anular geral dia 3, mas talvez até lá essa tucanada de internet já tenha me convencido a ir votar no PT cantarolando Cazuza. “Vamos pedir piedade, senhor piedade, pra essa gente careta e covarde...”. É bom que essa palhaçada se encerra logo no primeiro turno. 
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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O paradoxo Marina

Um partido que tem na agenda discutir a liberação da maconha
 lança uma crente candidata à presidência. 

Não sei como se cogita eleger à presidência uma mulher que teria o "rabo preso" com dogmatismos religiosos praticamente medievais ao lidar com qualquer problema dos dias atuais. De que maneira, uma Marina, como liderança política, vai enfrentar questões como preconceitos contra minorias, sejam homossexuais ou pertencentes a religiões originárias da África, vindo de onde ela vem, comprometida com o pensamento neopentecostal? 

Outra questão interessante é que o PV, pelo menos no papel, é um partido comprometido com algumas idéias que se chocam frontalmente com uma visão de mundo turvada por certos dogmas religiosos, digamos assim. Temas como a descriminalização do aborto e da maconha estão na agenda  do partido, assim como o combate ao preconceito contra homossexuais e outras minorias. Crente nenhum, nem mesmo Marina Silva, poderia enfrentar tais temas mantendo os compromissos do partido e ao mesmo tempo seguindo o que seu grupo religioso pensa sobre tais assuntos. 

Esse paradoxo já vez o "empreendedor metafísico" Silas Malafaia (aquele que ensina a calcular quanto você deve mensalmente "a deus", em dinheiro) abandonar a tal "onda verde". É esse paradoxo que tende a, quando explicitado, esvaziar todo o apoio político da candidata. Os neopentescotais abandonando quando descobrem que ela não pode se comprometer de forma tão ferrenha com o atraso, como eles gostariam, e os "universitários cool", engajados, quando descobrem que ela também não pode se comprometer com a agenda progressista que a coligação alega portar. 

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"Lula, o filho do Brasil" vai nos representar no Oscar

Tudo bem, eu também acho uma droga a simples idéia de realizar tal filme. O mundo não precisa de um "Dois filhos de Francisco presidencial" e o Brasil não precisa de uma versão puxa-saco do cinema soviético.

Mas, diante dessa droga toda, sempre vale a pena tirar um sarro do Serra, porque se um filme do Lula eu nem vi e nem gostei, um filme do Serra, cruz-credo! Ops. Não pode falar em cruz que assusta vampiro!


Imagem tirada de: http://revistaalfa.abril.com.br/blogs/microcontoscos/2010/09/23/escolhido-a-dedo/

The Story behind the Jolly Boys

Fiquei fã desses velhinhos aí.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Inusitado

Já tentou imaginar como é o dia de um desses caras que trabalham atrás desses balcões, com uma barreira de vidro entre ele e as pessoas por ele atendidas, num lugar por onde todo mundo passa apressado? Acho que essas estão entre as pessoas mais “coisificadas” nas relações de trabalho. É comum você vir distraído contanto dinheiro, chegar ao balcão com o dinheiro certo, fazer aquela transação qualquer, às vezes sem dar uma palavra, e passar.

O que me vez atentar pra isso, agora há pouco, foi um sujeito espirituoso pra caramba que atende num desses guichês onde se paga pelo estacionamento do shopping. Ali é que deve ser comum mesmo todo mundo passar batido, sem falar nem um “oi” pro cara, porque o preço nem varia, então não tem nada que te obrigue a dirigir qualquer palavra a ele. Eu, como sou mesmo distraído, cheguei ali catando umas moedas, já olhando lá pra fora, quando o sujeito começou a falar com uma voz estranha.

Demorei um pouco pra me tocar do que acontecia, até que percebi que ele imitava a voz da mulher da máquina que solta aquele bilhete do estacionamento na entrada. Aí comecei a rir, falei com o cara, e ele no final ainda soltou “O Iguatemi agradece a sua visita”, com a mesma voz daquela gravação irritante da cancela.

Não sei, talvez o objetivo do sujeito nem fosse me passar esse recado, de não tratar as pessoas atrás dos tais balcões como se elas fossem máquinas, mas interpretei assim, achei genial, e vou tentar falar pelo menos um “oi” pra essa gente maquinizada de agora em diante. Fiquei mesmo tão sensibilizado que se você, de algum grande grupo financeiro internacional, quiser aderir a essa causa, manda uma grana que a gente funda uma ONG pra tratar da autoestima dessas pessoas. Eu já passo e deixo um presente praquele gente boa lá.

Rehab - The Jolly Boys (Jamaica)

Essa eu tive que blogar! Peguei até um album desses velhinhos batutas! :)

O anti-lulismo como freak show

A verdade é que, no país inteiro, basta fingir que "está com Lula" para garantir sucesso eleitoral. Essa folga da qual goza o governo em qualquer disputa se deve a inúmeros fatores, inclusive, SIM, ao recurso sistemático a práticas populistas e ao fato de o principal opositor em campanha ser o Serra, um indivíduo que é implacável adversário de si mesmo.

Mas, indo além, não é difícil constatar que não há, no cenário político atual, um ambiente onde se possa exercitar crítica inteligente ao atual governo, justamente porque política não se faz sozinho e não há alternativas quando se trata de pensar coletivamente essa crítica. Você vai se unir a quem, a esses sociopatas que giram em torno dos clubinhos militares chorando saudades da ditadura? Ou a um partido de esquerda "nanico" qualquer, com opções de anacronismos marxistas de todos os sabores?

Eu prefiro ficar aqui e ver o circo pegar fogo. Se "luta de classes" é isso aí, eu quero é que se danem os dois lados. Eu fico postando bobagens aqui usando o celular. Por falar nisso, postagem de celular não dá muita liberdade de edição, então quem quiser ver o que motivou esse meu "desabafo", clique no link logo abaixo.

Mídia e militares: saudades de 1964? via #FeedSquares
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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Novo album do Radiohead está pronto

Li nesse link da Rolling Stone. Já deve estar metendo medo no que resta da moribunda indústria fonográfica. Será que vão lançar o album novamente naquele esquema de você pagar o valor que achar que deve?

Novas - Radiohead já terminou de gravar músicas para novo álbum via #FeedSquares
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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Richard Dawkins sobre a visita do Papa.

Não julgo que valha muito a pena investir esforço em militância ateísta, "proselitismo ateu" ou qualquer coisa do tipo, mas quando o Sr. Bento XVI abriu a boca para "linkar" qualquer não-crente, qualquer um que, literalmente, não "reze pela sua cartilha", ao nazismo, eu realmente achei que tal insulto merecia uma boa resposta. Até pensei em escrever algo sobre, mas antes achei esse vídeo do Dawkins que já diz tudo o que penso.

A resposta é certeira, tanto pela habilidade do Dawkins quanto pela própria debilidade do "adversário".

Guru indiano volta pra casa

Dez mil dólares por dia pra um sujeito criar um slogan que mais parece coisa de time de quermece e encher o saco até mesmo de aliados com spam.

Guru indiano contratado a peso de ouro deixa a campanha de Serra via #FeedSquares
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sábado, 11 de setembro de 2010

Como você sente a linguagem?

Memes, gírias, palavrões, apelidos, irritação e antipatia.
O título ficou meio boiola, mas não veio outro.



Por esses dias retomei uma reflexão que sempre fiz, mas dessa vez resolvi organizá-la num texto, mesmo que não muito pretensioso, tendo em vista que é para uma postagem de blog.

É evidente que ingredientes fundamentais da convivência, fatores decisivos dos sentimentos de empatia entre as pessoas, ficam situados exatamente na linguagem, no uso corriqueiro de determinadas expressões, na comunicação informal cotidiana. No primeiro contato com uma pessoa ou com um grupo, as impressões que vão determinar empatia advêm, fundamentalmente, da linguagem.

Os exemplos são tão abundantes que não é possível explorá-los aqui, pois o texto iria fugir muito do formato blog. Profissões, esportes, tudo isso faz surgir grupos com linguagens peculiares que, pelo menos no meu caso, ao atingir o ouvido ganham uma importância tremenda quando se trata de simpatizar ou antipatizar pessoas. Não suporto advogados chamando uns aos outros de “nobres”, por exemplo. Irritam-me gírias de surfistas e de quaisquer tribos urbanas, e por aí vai...

O problema da gíria não é a gíria em si, e sim o uso exagerado dela e a maneira como ela prega na pessoa um estereótipo. Tem gente que faz de si um imã de estereótipos. Se começar a praticar um esporte, em uma semana convivendo ali, já sai de lá falando quase que exclusivamente através das gírias que absorveu por lá.

Outro problema do uso “aloprado” de gírias é a idade. Consigo tranquilamente conversar com um adolescente que faz uso até exagerado delas, mas o sujeito já grisalho usando linguagem de tribinhos urbanas? Isso é irritante a um ponto que eu simplesmente não consigo conviver, fujo mesmo.

Outra coisa interessante é o caso dos “memes” linguísticos, que se espalham, como consta na própria definição de meme, de maneira idêntica a um vírus de computador. Algumas pessoas são infectadas por essas coisas e, rapidamente, muita gente ao redor se infecta e sai infectando os demais. É o caso dos “com certeza”, dos “fala sério”, infecções já em declínio, novas expressões usadas por personagens idiotas de novela e coisas do tipo.

Falando em “tipo”, um meme linguístico muito peculiar é esse uso descontrolado do “tipo”, que passa a preencher todos os espaços entre uma palavra e outra. Geralmente afeta adolescentes, mas nada impede que possa infectar um adulto com imunodeficiência intelectual. Um dia desses ouvi uma menina falar e ela intercalava tantos “tipo” entre as outras palavras que eu simplesmente não conseguia saber o que ela estava dizendo, porque só conseguia, cada vez mais irritado, prestar atenção naquele desgraçado meme.

O que distingue a gíria de um meme linguístico é que a gíria, mesmo que de maneira um tanto idiota, comunica alguma coisa. Esses memes linguísticos têm por característica simplesmente serem vazios de qualquer significado. Quando você está falando e alguém intercala sua fala com “fala sério”, aquela pessoa não está pedindo para que você trate o assunto com mais seriedade. Ela está apenas preenchendo com uma coisa irritante e idiota os intervalos da sua fala.

Aqui em Fortaleza, por exemplo, há um desses memes que acredito ser oriundo de alguma banda de forró ou de algum personagem humorístico tosco. As pessoas iniciam quase todas as frases com “PENSE!”. Eu me irrito, mas se eu quiser antipatizar pessoas infectadas com esse maldito meme, vou ter que mudar de cidade, talvez até de estado, sei lá até onde se alastrou essa infecção desgraçada.

Enfim, esses memes se alastram, eles não comunicam NADA, e eles empobrecem terrivelmente a linguagem, porque, com o tempo, além de apenas preencher vazios, passam a substituir termos que deveriam efetivamente comunicar algo. Você comenta alguma coisa com a pessoa e ela responde simplesmente com “PENSE!”. A resposta mais acertada seria “pensar eu estou pensando, quem não está é você, porra!”. Aí o palavrão fica bem empregado, porque ele cumpre sua função de expressar profunda irritação.

Quando quero expressar indignação, o que não é muito raro, uso até mais palavrões do que gostaria. É algo em que preciso mesmo melhorar, mas, por outro lado, não é um problema tão grande quanto um outro uso, ALTAMENTE IRRITANTE, que é feito de palavrões. Aquele uso banalizado, onde as pessoas se cumprimentam xingando. Encontra um amigo na rua e solta “E aí, SEU VIADO, como é que vai?” e o outro “Tudo bom, FILHO DA PUTA, quanto tempo! Prazer revê-lo!”. Esse é um problema muito alastrado, que afeta muita gente, e um problema maior ainda para mim, porque acho tão insuportável que acabo evitando conviver com essas pessoas.

Outra coisa que tende ao ridículo é apelido entre adultos. Tirando alguns apelidos carinhosos, encurtamenntos do nome, coisas de família, que praticamente substituíram o nome do sujeito ao longo da vida e ele convive bem com isso, quase todo apelido empregado entre pessoas adultas é patético tanto para quem usa quanto para o alvo do uso.

Tem gente que encontra pessoas com que conviveu na escola e, como uma forma carinhosa de relembrar o quão antiga é aquela amizade, resolve empregar qualquer apelido escroto que o sujeito teve no colégio. Apelido é algo para ficar na adolescência, exceto no caso daqueles de família já comentados, ou no caso de você ser um adulto membro de uma gangue, executivo do crime organizado ou qualquer coisa desse tipo.

Acho que o blog voltou aos eixos. Depois de um tempo falando sobre tecnologia, ele volta ao seu objetivo principal que é dar vazão à minha rabugice. Espero que gostem, ou não. Tanto faz. Isso aqui é um exercício, mesmo.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lee Ritenour & Eric Marienthal - Rio Funk

Mudando de assunto, espetacular essa versão de Rio Funk.


Lee Ritenour - Guitar
Eric Marienthal - SAX
Dwayne Smith - Bass
Art Rodriguez - Drums
Barnaby Finch - Keyboards

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Hitler reage a falta de update da Motorola

Um passo adiante e um novo tropeço



Não é difícil constatar que a Motorola tardou a se encontrar na área dos smartphones. A empresa, que  inicialmente teve boa projeção no mercado de aparelhos de telefonia celular, estava comendo poeira com o crescimento da procura pelos aparelhinhos “de alto QI”. Enquanto sistemas como o BlackBerry, o Symbian usado pela Nokia, o Windows Mobile e mais recentemente o iOS da Apple disputavam mercado, a Motorola oferecia aparelhos comuns com inúteis penduricalhos em Java.

Por outro lado, é fácil constatar que o sistema operacional Android, da Google, caiu do céu para tirar a Motorola da amargura. Com o lançamento dos Droid, Milestone, Cliq XT (Quench) e vários outros modelos, com interessantes recursos somados à força que o Android ganhou rapidamente (o tal “toque de Midas” da Google), a Motorola emergiu no mercado e Smartphones e ganhou bastante prestígio na área.

Passo acertado, usuários satisfeitos, tinha que vir uma trapalhada pra queimar tudo? Pra gente de bom-senso, o ideal seria segurar a boa fama mantendo os usuários satisfeitos, mas os analistas da Motorola tomaram outro rumo. Isso porque todo possuidor da atual geração de smartphones Android espera ansiosamente pelo acesso aos benefícios da nova versão do sistema, que não sairá para a maior parte dos usuários de aparelhos da Motorola.

O hardware dos aparelhos é plenamente capaz de rodar a nova versão do Android, que inclusive será disponibilizada para os usuários norte-americanos. O fato é que a Motorola resolveu dar uma banana pro mercado latino-americano. Nenhum smartphone Android da Motorola receberá, por aqui, atualização do sistema operacional.

Só consigo imaginar um motivo para tal decisão: manter os usuários norte-americanos felizes e, no resto do mundo, testar experimentalmente se os usuários sacaneados pela não atualização do sistema correrão sorridentes para comprar os novos Milestone 2 ou Droid X. Não imagino que esses consumidores sejam tão burros quanto o autor de uma idéia desse tipo.

No meu ciclo de convivência e, através da internet, um pouco além dele, sou um formador de opinião quando o assunto é aquisição de tecnologias de uso pessoal, gadgets de toda natureza. Decidi, analisando o hardware e a relação custo/benefício do Motorola Quench, adotar o aparelho como minha escolha de smartphone. Só entre pessoas ligadas diretamente a mim, duas, ao saberem da minha preferência, adquiriram os seus Quench antes mesmo de eu ter o meu.

Acontece que tal decisão foi tomada tendo em vista que o aparelho, com um preço mais acessível comparado a outros smartphones, é equipado com um hardware interessante e capaz de rodar com bom desempenho qualquer versão do Android disponível, inclusive a 2.2. Acreditava que a  Motorola iria, aproveitando o bom momento que o Android está proporcionando, tentar satisfazer os novos usuários conquistados. Agora, nem os usuários do Milestone (de quase 2 mil reais), terão acesso oficial ao Android 2.2 (Froyo), enquanto o Quench (quase mil reais) simplesmente desapareceu da nova tabela de atualizações de sistema, como se o modelo sequer existisse, e provávelmente ficará preso à mais jurássica versão do sistema, a 1.5. A esperança de que o aparelho tivesse update oficial pelo menos até a versão 2.1 caiu por terra com a divulgação da nova tabela

Enquanto isso, empresas de fundo de quintal na China já começam a soltar no mercado smartphones baratos que já vem com o Android 2.1 e não tardarão a ser atualizados, oficial ou extra-oficialmente, para qualquer versão do sistema que seu hardware seja capaz de rodar.

É um quadro que, certamente, muda o tom das minhas  conversas sobre esse assunto de agora em diante. O ponto é: o Android, a meu ver, é a mais interessante plataforma para mobile devices existente, mas há nele uma segmentação de mercado complicada, que traz aos consumidores os riscos de ficarem a mercê da boa vontade de fabricantes que nem sempre estão interessados em satisfazê-los. Ao comprar um smartphone com Android, é preciso conhecer as marcas e se informar sobre seus históricos com relação à disponibilização dos updates do sistema. Ainda não me dei o trabalho de fazer esse levantamento, pois não penso em comprar tão cedo um novo aparelho, mas já tenho uma marca cortada de qualquer lista que eu venha a fazer: a Motorola.

Quanto ao meu Quench, ele vai ser atualizado, certamente, quando eu puser as mãos em alguma ROM hackeada do Cliq XT (nome do Quench nos EUA, onde sairá atualização oficial). A etapa mais "complicada", no Quench, para a instalação de ROMs alternativas é hackear o aparelho para ganhar acesso de super usuário, coisa que já tá feita aqui e qualquer um pode fazer seguindo tutoriais encontrados por aí.

Quanto à Motorola, espero que volte ao coma em que se encontrava no mercado de smartphones, dessa vez coma profundo, seguido de morte. Fiquei com raiva mesmo, não tanto pela ausência do update, mas pelo injustificado tratamento desigual aos consumidores fora dos EUA. 

Aos usuários sacaneados, resta seguir o pessoal do @MotoFail no Twitter e ajudá-los a dar um troco à Motorola. Eu já estou por lá.  É interessante também dar uma checada nessa matéria do Gizmodo sobre o tema das diferentes versões do Android e a política das empresas fabricantes de aparelhos. 


Atualizações:


1 - Leiam o ótimo post do Cardoso sobre o tema: http://bit.ly/dzQqbn

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Geolocalização e redes sociais para quem tem vida social


Criei meu profile recentemente no Foursquare e, quando perguntado se queria chamar meus amigos, respondi que sim. Como o sistema do Motoblur integra, nos contatos do celular, todo mundo de todas as redes sociais e, eu acho, até mesmo gente com quem em algum momento eu troquei e-mails usando a conta do gmail, então isso deve ter provocado uma considerável chuva de “spam” por aí.  Agora, vez por outra, aparece alguém no MSN perguntando “o que é esse Foursquare”.

Para usar o sistema você precisa de um cadastro no site e de um smartphone com GPS e compatível com alguma versão do client deles (tem para todas as plataformas) e de uma conexão com a internet nesse aparelho, 3G ou até Wi-Fi (nos raros locais que disponibilizam). O software do Foursquare, instalado no seu smartphone, usa o GPS para saber onde você está. Você tem, então, a opção de acessar informações sobre bares, cinemas, teatros, shoppings, etc. ao redor daquele ponto. Todos esses dados são fornecidos pelos próprios usuários, pois o sistema possui um esquema de “joguinho” para estimular o envio de dados sobre os lugares, atribuindo algo como medalhas aos profiles dos “desbravadores” que cadastram novos lugares.

Com os dados atualmente disponíveis, o sistema já é bastante interessante. Ele sabe mais de bares, restaurantes, e etc. ao redor da minha casa do que eu. Com a popularização, tende a se tornar ainda mais legal, pois vão ficando mais viáveis as possibilidades de interação com seus amigos. Avisar os amigos que você está num happy hour num barzinho novo, por exemplo, não vai mais requerer longas ligações telefônicas para falar para todo mundo o endereço e como chegar. Se o lugar for novo e não cadastrado, basta ir em “add venue”, cadastrar a novidade e fazer o seu “check in”, o que possibilitará aos seus amigos saber onde você está, do que se trata o lugar e ter acesso à rota para chegar até lá através do Google Maps. 

Aí vem aquele dilema da privacidade, mas tem gente que bota foto de calcinha no Orkut e acha um absurdo dizer na internet que se encontra num barzinho, com a localização do lugar. Acho contraindicado para quem tem muitos inimigos e é ameaçado de morte, ou então para um sujeito muito “sequestrável”, tipo quem aparece na revista Caras. De resto, não vejo tanto problema de segurança e privacidade. É uma rede social que se acopla a uma vida social, diferente dessas onde as pessoas passam o tempo inteiro enfurnadas, chafurdando a vida alheia no Orkut sem ver o mundo lá fora. A idéia é tão legal que o Facebook já tá se mexendo pra roubar

terça-feira, 29 de junho de 2010

Ópera no meio do povo

"Brincadeira" feita pelo pessoal da Companhia de Ópera da Filadélfia. Achei sensacional, simplesmente.



segunda-feira, 21 de junho de 2010

CALA BOCA REDE GLOBO



As brincadeiras de “Cala boca” no Twitter, que começaram com uma “inocente” gozação com o Galvão Bueno, acabaram tomando outro contorno com a ascensão do “CALA BOCA TADEU SCHMIDT” ao topo dos Trending Topics do sistema.

Assim como a primeira campanha, que tinha como alvo o locutor e, além de brincadeira, transmitia a insatisfação com o besteirol excessivo da narração, o novo “CALA BOCA” carrega junto uma mensagem mais interessante: as redes sociais estão tornando perigosas as manobras de manipulação da opinião pública, pois basta que um pequeno grupo perceba a jogada e inicie uma onda de mensagens para fazer com que o resultado seja o oposto do esperado.

Não acompanho tanto futebol para fazer uma análise do que a Globo resolveu chamar “Era Dunga” e nem mesmo do Dunga como sujeito, mas fica claro que, de longa data, de bem antes do início da Copa, o jornalismo esportivo da Globo investe pesado contra o técnico. Tenho colegas, mais ligados em futebol que eu, que torcem contra a atual seleção por simples antipatia pelo técnico, por birra. Parte dessa antipatia pode ter sido conquistada pelo próprio Dunga, mas, observando o quadro com mais cautela, percebe-se que a grande maioria repete feito papagaio ataques pré formulados contra o técnico e contra a seleção.

A explosão do Dunga contra o tal Escobar, não obstante ter sido uma cena feia, uma atitude desaconselhável, sobretudo naquele ambiente e naquela ocasião, não parecia ter surgido simplesmente ali. O cara estava enfurecido e parecia vir, de longa data, acumulando motivos para tanto.

Diz-se que Alex Escobar é dos que movimentam as futricas que jogam o povo contra o técnico, divulgando que ele mantém jogadores contundidos em atividade e omite a informação, esse tipo de coisa. Depois do ocorrido, no Fantástico, Tadeu Schmidt fez um ressentido discurso, tomando as dores do “jornalismo”, como se Dunga, ao explodir contra Escobar, estivesse ofendendo a imprensa como um todo.

Enfim, não tenho e nem pretendo ter elementos para julgar as causas do ocorrido, o que me interessa são os efeitos: o “CALA BOCA TADEU SCHMIDT” significa na verdade um “CALA BOCA REDE GLOBO” e isso é realmente interessante. É importante que os brasileiros exercitem essa capacidade e ponham-na em prática mais vezes e em ocasiões em que o assunto seja mais relevante do que uma simples birra com o técnico da seleção. Vejamos se conseguimos emplacar um CALA A BOCA REDE GLOBO nas eleições que vêm por aí, por exemplo.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Pay to play

Já tinha minha desconfiança, por ouvir relatos de alguns músicos, da obscuridade do papel exercido pelo ECAD – e por outras entidades e organizações assemelhadas mundo a fora – nessa arrecadação de “ direitos autorais” em execuções musicais ao vivo. 

A coisa funciona, por mais esquisito que pareça, assim: se um músico está executando num barzinho aqui da esquina uma canção da autoria de um tocador de dombra do Cazaquistão, aparece um carinha do ECAD com um caderno, anota aquilo ali e cobra do dono do estabelecimento um valor de direitos autorais que será remetido ao dombrista (ou seja lá como chama o sujeito que toca isso).

É preciso ser mais que ingênuo, é preciso que você seja o “ über-otário”, para acreditar que o “dombrista” vai ver algum tostão disso, mas o pessoal dos direitos autorais tá lá, aparece em ocasiões aleatórias, mas, se eles aparecerem, a grana tem que rolar.

Cheguei a ver a cena, pois minha namorada é cantora. O sujeito chega, fica por ali, vez por outra ele pergunta ao músico que canção é aquela e de quem é. No caso, o vi questionar sobre uma música do Bob Marley e fiquei ali pensando se eles acham que nós, ao presenciarmos aquela cena, estamos acreditando que alguma coisa daquele dinheiro vai parar nas mãos dos herdeiros do músico.

Bom, por aqui, pelo que parece, os donos dos estabelecimentos ainda não começaram a se sentir tão prejudicados, pelo menos não ao ponto de encerrarem as atividades de música ao vivo, reduzindo o mercado de trabalho dos músicos locais, mas essa postagem foi motivada justamente por essa notícia onde se relata que, mundo a fora, esse tipo de atividade tem se tornado tão truculenta e extorsiva que tem levado os donos dos estabelecimentos a tais medidas.

Só pra postagem não ficar sem alguma ilustração, fiquem com esta senhora tocando dombra: