sábado, 2 de outubro de 2010

Uma oposição que só fala para si mesma

 

elitismo

Interessante como as últimas postagens do blog renderam bons papos com amigos que vieram aqui, leram textos e discutiram alguns pontos.  Um deles desses pontos, “mote” desse novo texto, repetiu-se em duas dessas conversas e trata de uma idéia que eu já vinha amadurecendo para uma nova postagem. Resolvi antecipar, extraordinariamente, porque a votação é amanhã e, se deixar passar, a postagem fica obsoleta antes de vir para cá. 

Analisamos um aspecto peculiar nessa última campanha tucana, o que já havia sido tangenciado nesse texto recente. Trata-se da completa incapacidade do discurso produzido pela oposição no sentido de comunicar qualquer coisa ao povo.

Parece que o PSDB, inspirado pelas últimas modas em termos de marketing eleitoral, resolveu vir para a internet, ocupar espaços na rede, usá-la como veículo fundamental. A estratégia mostrou-se ridiculamente fraca em todos os momentos da campanha eleitoral.

Desde as participações do @joseserra_ no Twitter, com suas postagens destacadamente insossas, como não poderiam deixar de ser, relatando ter acabado de jogar ping-pong ou estar voltando de um almoço de família, até a contratação de um guru índiano de mídia online que nunca mostrou a que veio.

No Twitter, era o Serra tentando mostrar seu cotidiano, seu “lado humano”, seus laços com a família, como se isso fosse o fundamental para a construção da sua imagem de candidato. Ou seja, construindo uma impressão de “semelhança” com seu eleitor, com seus pares de classe média, numa comunicação que não fazia sentido pra público nenhum, que não tinha muito significado para ninguém. Você não acha interessante ver um amigo seu no Twitter falando que foi jogar ping-pong, você acha interessante quando ele fala algo interessante.

Ou seja, o Serra, em si, não é capaz de se comunicar de modo convincente, nem mesmo com os seus, nem mesmo com as pessoas pertencentes a sua mesma classe social e, muitas vezes, nem com seus próprios aliados. É tanto que o discurso dele é o discurso do EU. “Eu isso, eu aquilo, eu fiz isso, eu vou fazer aquilo. Eu escrevi o projeto que criou a lei da gravidade, que só passou a ser cumprida quando aquela maçã caiu na cabeça de Isaac Newton.”  É um sujeito que só fala de si e acaba só falando para si. O “nós” quase não aparece na fala do candidato. Todos sabemos: “eu” não faz política, “nós” é que faz. E não importa nem a concordância verbal.

Além dessa comunicação auto-referente do candidato, há o problema, e esse talvez mais grave, da sua, digamos… “militância”. A militância pró-Serra se comunica sempre usando como premissas de argumentação os seus próprios preconceitos, seus preconceitos de classe, como bem destacou meu amigo Jetther num comentário recente aqui no blog. São repassados reiteradamente e-mails que “berram” pela rede inteira que “SÃO OS DESVALIDOS QUE ESTÃO ESCOLHENDO O PRESIDENTE!!!!! UNS MORTOS DE FOME QUE NEM SABEM SOMAR COM OS DEDOS É QUE VÃO DECIDIR O DESTINO DA NAÇÃO!!!!!”.

Sim, eles escrevem esse tipo de coisa, tudo irritantemente em caixa alta, com abundância irritante de pontos de exclamação e comentento até um monte de erros de português enquanto acusam os eleitores do PT de serem analfabetos. Mas, vejamos, dotar até mesmo os desfavorecidos de capacidade decisória, da possibilidade de inrterferir nos rumos da nação, não é um dos principais escopos da democracia? Então aquele argumento serve para quê? Ele comunica o que para quem, a rigor, em termos de política?

É claro que esses e-mails circulam e provocam até mesmo entusiasmo. Alguns se põem a repassar empolgados. O que eles não sabem é que só estão falando entre si, que pessoas que não compartilham daqueles preconceitos nunca serão atingidas pela tal “mensagem” e que aquele desespero evidenciado pela caixa alta e pelas sequencias de pontos de exclamação também não é compartilhado por muitas outras pessoas além daquele “tiozão reaça de churrasco” que tá na sua lista e mais um punhado de bolsonaros espalhados por aí.

Talvez tenha sido esse fator que levou a campanha do Partido Verde, mais recentemente, a ganhar espaço sobre os tucanos. A campanha da Marina parte do reconhecimento de que o governo tem problemas, tenta fazer uma crítica mais lúcida, sem desespero, e  não usa preconceitos de classe como premissas. Seus militantes, em geral, são pessoas também capazes de se articular nesse sentido e a presença deles online é mais eficaz do que a truculência da militância tucana.

A vitória do PT nas próximas eleições não é o fim do mundo, como andam alardeando nas correntes de e-mail, não é o fim do Brasil, mas eu torço para que seja o fim do PSDB como principal oposição ao governo. Porque uma democracia, para funcionar, precisa de uma oposição viva, inteligente, e capaz de se comunicar com todos os setores da sociedade.

O que o Brasil precisa, não obstante quem esteja no poder, é de uma oposição renovada, mais inteligente e menos preconceituosa, gente que o PSDB não é capaz de reunir em torno de seus candidatos porque é um partido que, historicamente, esteve atrelado ao elitismo mais mesquinho, aos piores caracteres do atraso do nosso pensamento político e é isso que o partido atrai para si. É isso que acaba angariando esse peculiar voluntarismo truculento que espalhou e-mails preconceituosos enquanto pensava estar fazendo política durante toda a atual  campanha.

Enfim, eu não gosto de profetizar e, como já disse, não nutro grande entusiasmo por nada nas atuais eleições, mas se houver um segundo turno sem o Serra, se uma eventual ida da  Marina para o segundo turno for a pá de cal que faltava pra terminar o sepultamento do PSDB e, com isso, o país puder ter a  oposição renovada da qual precisa com tanta urgência, acho que gosto da idéia…

O emblemático vídeo das “massas cheirosas” já anunciava qual seria a marca da campanha tucana, na internet e fora dela.

Continuem lendo e comentando. O espaço aqui é nosso. Em breve irei migrar o blog para o Worldpress e hospedar num servidor próprio, além de adquirir um potencial novo colaborador, que além de ser um cara com uma tremenda capacidade crítica, é bastante experiente em mídia online. Meu velho amigo Jetther Binelli, da KNS

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